Loui Sousa

Capitão Tenório, a cidade dos assombros, tem a leveza que é uma bola de feno se arrastando sobre as ruas empoeiradas, desgastadas pelo tempo, pelas rodas de madeira que se arrancham nas carroças tracionadas por cavalos baios

Um lugar de manso colo, encravado entre rochas e aridez profunda

L F

(Prolixo)

Era flor mas agora é aço
era cana e é bagaço
era um pacote, um maço
era uma linha e agora traço

Um muito, um tanto escasso
era treva e facho, mas agora é laço

Era despedida e agora abraço
Era morte ? É descompasso
Era uma aperto, um espaço
Mas agora é um poema crasso

L.Fernando

(Não quero contar)

Que desejo mais que posso alcança-lo

Que da carne tenho as tantas cicatrizes que são rasgos de outras mortes

Que me foge ao pensamento lembrar que também tenho vontade de não querer

Que tudo que eu sonhava tinha em mim razão de iludir

L Fernando

Meu amigo lusitano, romancista veterano, filho da região do Algarve, escreveu-me a fundo um parágrafo de afeto

Ainda em suma prestação florida, deu-me ao caso de entender sua presença,
que posto fez-se compensar gratidão e ternura, disse :

"Meu caro amigo Loui, longe de ti tomei um trago amargo"

O Derrite trouxe o "dedo podre" para sabotar o plano de segurança contra o crime organizado

Por trás do mamulengo o Tarcísio ditou as regras para confundir o debate público sobre o assunto

Bem ao modo bolsonarista de emporcalhar a política e desinformar

(Nunca mais um soneto)

Avisto a sombra que
te ausenta
Em mais que um desatino
e flores mortas/

De fluir na terra que tu eras
Antes de plantar-se às fundas cavas d'onde brotas/

Amo-te de sonhar que eu era tu
Bem mais que as mágoas que te tentam/

L.Fernando

(Um rei nunca e sempre)

Torno a pedir-vos que anteceda em nossa causa

Que vos teime em arguir o nobre infante sobre as suas andanças

Visto que, a pedido de emergência em que toma assento a vossa mãe,

vos pedimos que o mancebo seja indagado sobre o porque de tanta insolência

Um homem "inflado" e seu olhar inexpressivo, tão deformado quanto o seu governo

Conta a história que o "senhor balão de ar" carrega um piano com mais de cem cadáveres pelas ruas do Rio de Janeiro

(Fragmentado)

Abriu um vinho no bar da Praça 15, sentado como de costume no banco terceiro, próximo de um feng shui ornado em flores, um em cada canto, simétrico de dar gosto

Chamou o garçom de seu, piscou na direção de alguns passantes enquanto rasgava o rótulo de um cabernet chileno...

(Não mais a crônica da vida)

Despertam sensações em mim que estavam silenciosas - culpar o tempo que me faltou, o jardim que eu vejo, ressequido, que é de brotar mas está morto

E tantas outras assertivas visuais que me instigam pensar o mundo - os cães abandonados, a ruína humana vindoura

Quem era eu, Segunda-Feira ?!

Arrastado ao campo de batalha
Cuidando a fornalha da vida

Quem era eu, Segunda atrevida ?!

Mais morto do que vivo
Perdido em pensamentos derrotados
Num dia triste, no outro
afetado

Agora eu pego no tranco
Vou me jogar na ladeira da consolação

L.Fernando

(Novembro)

Domingo chama o silêncio de seu, pede introspecção, pede recolhimento

O domingo que escondeu um cachorro debaixo da cama ainda vive em mim

As ruas cálidas, os sons dos radinhos de pilhas que ecoavam
durante os jogos de futebol, os sinos das igrejas...

Ah, 1978...que saudades

Um dia na Lapa, entre os Arcos da Lapa - bebendo cachaça, caçando pirraça nos Arcos da Lapa

Na boca da noite a graça, as ruas lotadas de gente, felizes e contentes, puxando a carcaça dos bancos da praça, dos Arcos da Lapa

No ventre da noite, ao som da bagaça, cumprindo a sentença na raça

L.F

(O que somos ou não, terá vencido)

Dentro de mim o sonho
me liberta/
Ora posto o riso da alma
naufragada/

E sinto a dor que rasga o peito
agora confrontada/
Muito para o fogo do penhor
que me desperta/

(Fim da linha)

O STF nem piscou e já negou os embargos impostos pela defesa de Bolsonaro

Não há mais recursos, não há mais pedido de "vênias", não é mais possível dar razoabilidade ao golpismo

O fim da linha chegou a galope, e agora resta claro que o "mito" vai experimentar o macacão laranja

As versões de Lula, desde o primeiro mandato, são todas dígnas das suas origens

Posto a sua verve que se alcança, o homem que se fez provar do que acredita, percorre a mesma estrada de sabedoria e ideário humanista

(Não há mais poesia)

Antes era um soneto, que se cantava, mavioso - era gritante entoa-lo, como a chamar as flores do encanto às suas constatações

Muitos se diziam poetas entre rosas e concretos - guardiões da métrica e do verso esticado, mas eram só uns amantes entendidos

L.Fernando

O que esperamos do outro ?

Vamos combinar um encontro, tu e eu, dentro do teu quarto, mas pode ser no meu

Já que estamos conjugados, parede com parede e abnegados de razão, sonhemos ; Sejamos felizes enquanto turvam as águas do alheio

Por aqui, fica acertado que não deixaremos a contenda resistir

Claudio Castro se vestiu de morte para congratular seus amigos da Milícia em detrimento dos seus concorrentes do Comando Vermelho

O morticida escancarado abraçou quantos devaneios conseguisse em busca de votos e do apoio "luxuoso" da bandidagem que pratica extorsão a moradores e comerciantes do RJ

(As razões de existir)

Um trago de amor toma-se aos prantos, dói a alma e aos quebrantos, ama-se mais e mais

Um dia e outro se deprime e se deprecia, corre à luta, silencia
chama para si a culpa ausente

Uma vez, em choro displicente,
desce outro trago e volta ao começo do fim

L.Fernando

Não somos mais os mesmos

Em 1979 havia um frescor que sentenciava a cidade a permanecer mansa e cálida em dias de outono

Tempo em que eu ainda acusava o viço dos meus longevos onze anos, entre sonhos e vaidades que valiam as sombras da realidade

E porque nada somos agora senão uns ressentidos

Os entusiastas do "Estado Mínimo" desejam dizimar o Estado, usurpando as estruturas patrimoniais do Poder Público e embolsando para eles mesmos todo o capital oriundo do Contribuinte

Isso se chama "Assalto"

Como se não bastasse a infinidade de partidos que assola a política nacional - os partidos de alugueis, os partidos nanicos

Agora teremos que aguentar o aumento da miséria moral no debate político com a ascenção do MBL e sua nova agremiação

Vai ser uma farra com o fundo partidário

Triste fim

O horror chegou à política brasileira com a aprovação pelo TSE do (Partido Missão, do MBL)

O presidente da corriola ?!
Renan Santos
Sim, meus senhores

O mau caráter agora tem seu próprio partido

O canalha que foi um dos integrantes da tal "Tour de Blondie", junto com o Mamãe Falei

Fim

(Onde vivem os monstros)

No coió da extrema-direita um petardo de figuras se amocaram, fazendo do PL, o Partido da Bandidagem e seus afins, um pardieiro dígno de seus representantes

Nunca se viu tanto monstro junto defendendo as piores indecências contra a sociedade

Um homem inflado

A qualquer momento ele pode explodir

Todos sabemos que vai dar em nada

(Po-ética)

Breve lua que passeia
Ante um céu de mil clarões/

Ó bendita, o que semeia
aos borbotões ?!/

Trança nuvens, paira mansa,
és a deusa dos trovões ?!

O que diz o teu poeta
dessas tramas de ilusão ?!

L.Fernando

(Não há mais poesia)

A luta diz muito sobre quem vai
sobreviver um pouco mais

Mas é sábio lembrar que mesmo os
grandes lutadores terá o seu fim
decretado

O mundo é o mundo das finitudes,
do aço que corrói,
do homem que virou pó...

Raios de povo que margeia o rio das incertezas desse Rio de Janeiro caótico e que se entregou aos deleites criminosos do bolsonarismo

Ainda há tempo de "limar" essa corja da vida pública