Matheus Lins

“Eu sou aquele que, a fim de ser, precisa fustigar o que tem de inato”, escreve Artaud — o mais didático e o mais intransigente herói da autoexacerbação na literatura moderna.

… que violenta a própria e singular subjetividade.

A arte como a afirmação da consciência de si — uma consciência que pressupõe desarmonia entre o eu do artista e a comunidade.

Apesar da disponibilidade de vasta informação biográfica sobre Baudelaire e quase nada sobre a vida de Lautréamont, “As Flores do Mal” e “Os Cantos de Maldoror” são igualmente dependentes, como obras literárias, da ideia do autor como uma personalidade atormentada…

Uma prosa de poeta é a autobiografia do fervor: o poeta lamenta um Éden perdido; pede à memória que fale, ou soluce.

Você não pinta almas, você pinta corpos, e a alma brilha através deles — mas às vezes a alma está preocupada, na verdade, com o seis de copas.

Neste ponto, Gasquet, permitindo-se sair da pose o suficiente para mover seus lábios, observou:

“Eu estava pensando na mão que tinha até a terceira rodada ontem.”

4/ “Mas então, há o outro. Para mim, ele olha de soslaio. Está olhando, olhando para mim. Enquanto este aqui está olhando para sua vida, seu passado, você, não sei o quê, algo que não sou eu, não somos nós...”

3/ “Assim, você vê como esse minúsculo tom que se escurece sob a sobrancelha se deslocou. Bom. Eu o corrijo. Mas aí o meu verde claro perto dele, posso ver que é forte demais. Eu o atenuo... Continuo, com toques quase invisíveis, por toda parte. O olho parece melhor.”

2/ “Ele está escutando apenas com um ouvido. Está pensando – sobre o quê? Além disso, ele é tomado por sensações. Seu olho não é o mesmo. Uma proporção infinitesimal, um átomo de luz, mudou, a partir de dentro, e encontrou a cortina que muda, ou fica quase imutável, na janela.”

Paul Cézanne, trabalhando em um retrato de seu velho amigo, o padeiro (e fumante de cachimbo) Henri Gasquet, tentou explicar seu procedimento para o filho de Gasquet:

1/ “Olhe, Gasquet, o seu pai, ele está sentado ali, não está? Ele está fumando seu cachimbo.”

… com base na expressão utilizada pelo Império dos Habsburgo para definir o seu território: em alemão, “Kaiserlich und Königlich” (imperial e real), frequentemente abreviada como k. und k.

“Mesmo que não tenha sido ‘o calabouço dos povos’, resta o fato de que a Kakânia, odiada por todos, era uma espécie de “absolutismo a contragosto.”

— Robert Musil.

Kakânia, país imaginário ironicamente criado, como espécie de calembur coprofágico…

Quem atinge o alvo erra em tudo.

Pessoa canetou quando disse que os sentimentos que mais doem, as emoções que mais pungem, são os que são absurdos — a ânsia de coisas impossíveis, a saudade do que nunca houve, o desejo do que poderia ter sido, a mágoa de não ser outro, a insatisfação da existência do mundo…

A luta contra a censura é pública e perigosa, portanto heroica, ao passo que a luta contra a autocensura é anônima, solitária e sem testemunhas — e, por isso, provoca no indivíduo um sentimento de humilhação e vergonha por ter colaborado com ela em primeiro lugar.

O espírito da censura, que deseja destacar sua legitimidade ao mesmo tempo que busca camuflar sua negação.

Há metáforas que são mais reais do que a gente que anda na rua.

À medida que o prestígio da linguagem cai, o do silêncio sobe.

Eu argumentaria, ao contrário de McLuhan, que uma desvalorização do poder e da credibilidade das imagens teve lugar de forma não menos profunda e essencialmente semelhante à que atingiu a linguagem.

O anseio de estar em casa em qualquer parte.

O que se sente exige o momento; passado este, há um virar de página e a história contínua, mas não o texto.

A vida seria intolerável sem as forças que a negam.

Infelizmente, o grande Pasteur tinha razão quando dizia que o acaso favorece apenas as mentes preparadas.

A Musa me encontrou espiritualmente desalinhado…

A literatura dá um sentido à imperfeição do mundo e do homem, ela tende, como a música, à perfeição, ela gostaria de dar sentido à vida, dar sentido à morte.

Um consolo ínfimo para a mortalidade humana.

It might not be my cup of tea, but the music of Imagine Dragons makes a lot of people happy, and that's a huge problem.

O meu ser ignóbil ante a vida finge-se.

O mal romântico, segundo Pessoa, é querer a lua como se houvesse meios de obtê-la.

Daí o desentendimento entre o poeta e o ideólogo. A poesia é dúvida. A ideologia é ausência da dúvida.

A ideologia responde a um projeto social preciso que não leva em conta (nem deseja fazê-lo, em seu arrazoamento utópico e rígido) aqueles que corroem todas as imperfeições com a dúvida, um ácido que obstrui o caminho da realização desse projeto utópico.

Acabei de descobrir que existe um verbo em russo específico pra fazer a saudação nazista: зиговать - zigovat, que, obviamente, vem de "sieg heil". Ontem, por exemplo, Elon зиговал - zigoval.