Lai Ambrósio

Talvez o retrato de uma anarquia se baseie não na desestruturação absoluta, numa imagem pueril de caos, mas, precisamente, remeta a essa imagem como o residual das ficções necessárias que ela subtrai; nesse sentido, se a vida se percebe danificada, seu terror, em verdade, é bastante simpático

"Laís, como anda o São João por aí?"

Se o dia dos mortos eu passei viva, quem dirá o dos namorados

Veja bem, não é que eu celebre a censura do humor em virtude do conteúdo, mas sim a criminalização da categoria de humorista

Quando o novo headset que você comprou em detrimento do microfone do fone anterior, desgastado de anos, captar eco vir, agora, captando apenas o eco, não mais sua voz, aí você se mata

Agora pela ocasião de premiação estrangeira as pessoas se permitem propor qualquer vulgaridade, querem implicar que o diretor de La Chinoise era mal humorado

Maria, do Kamimura

Aparentemente o nome "Akashic Records" faz referência não a uma transliteração errônea de arcaico ou a qualquer setting de fantasia, como se esperaria do anime, mas a um orientalismo teosófico que teria o conceito de akasha, do sânscrito, como o respaldo transcendente da memória universal

Lembrando de uma multual que inventou a mentira inconsequente, anos após a vida útil da pseudo popularidade do Ourfali, que uma prima dela teria beijado ele

Hoje era só uma compilação de horas, curada pela mais fina historiografia de fãs, da vida e obra da ídolo virtual Gawr Gura e uma soneca irregular à tarde …

Talvez a condição para se entender os filmes do Tarantino enquanto pastiche seja dar como suas influências são reduzidas na apropriação — a ação no cinema de Hong Kong passa ter seu argumento predicado enquanto gênero — para então serem restituídas, no seu cinema, como violência, sua única verdade

Tive uma súbita inspiração pra fazer essa tirinha com um quê de Laerte

A questão do abunakawai de Nekojiru parece não essencialmente distanciar ela do gênero de histórias cotidianas como Maruko-chan, as protagonistas se veriam com os pés pro ar numa cadeira de praia, por exemplo; antes, o interesse é não omitir que o universo infantil também enxerga o crime e a doença

Nunca, me parece, foi questão de minutos a mais para desenvolver um problema atrelado a um personagem, à trama do filme, etc, isto é um preconceito narratológico; antes, é questão do que se permite desenvolver, o que se pretendia fazer, e o que foi feito

Os minutos a mais da caminhada nos mostram um Matthew desconcertado com as damas, um estacionário alongando o serviço e reclamando do horário, do casamento, uma Anne melancolicamente contemplativa; mas, do mesmo modo, pelo pacing do atual, em contrapartida, já estamos em casa

Claro, não querendo implicar mérito de um em detrimento do outro, mas traçar como analisar a duração, comparativamente nesse caso, exprime o distinto modo como se aborda seu tempo, o que se constrói, o que se permite construir a partir dele ...

Trazendo pro contexto da nova animação de Anne porque, antes, acho mais próprio tratar do que, na série antiga, por convenção da serialização setentista dos WMT, distancia o ânimo do atual daquelas intenções; fiz esse paralelo com os dois episódios em um grupo de amigos comentando sobre

Acho impertinente os comentários que visam fazer da duração um critério substancial; permitir, por exemplo, Wavelength sim mas não Région Centrale, quando suas intenções mediante o tempo não parecem se diferir substancialmente, o que permitiu ser antes não deixa de ser o que legitima depois, etc

Paralelos cinematográficos

Uma verdadeira amizade é aquela onde mutuamente se escutam os links do Spotify enviados ...

"Não é assim que os termos funcionam", eu tenho certeza que sim, essa é a deixa pra alguém me corrigir ...

O que, talvez, por sua vez seja análogo ao Hideo Kojima passar de MSG2, à crise do do imaginário nacional globalizado na informação, nos interpretada ludicamente à medida que espelhamos a desorientação do Raiden, à restituição simbólica de sua agência no MGS3, pelo retorno ao passado a ser realizado

Acho que a passagem, ou o retorno, que o Satoshi Kon opera de Perfect Blue a Millennium Actress pode ser entendida em termos do que a performance da ídolo, demarcada pela idolatria, contrasta à da atriz, no que reflete o imaginário do espectador, em função de como se relacionam ao desejo do olhar

Alguém por engano quase sincronizou os fone de ouvido ao meu celular, perdi a oportunidade de divulgar minhas playlists à contragosto terceiro

Vendo os comentários do relato das travestis no presídio de Igarassu — claro, uma curadoria sempre benquista do mais biltre, vil, miserável que a opinião pública pode proporcionar — e não me deveria espantar o quão predispostas as pessoas por lá são para legitimar estupro.

Talvez a predisposição a machucar nossos amigos, mais que outros, esteja pelo que nossa proximidade nos confunde como mesmo e, ao final, não seja senão a nós mesmos que repreendemos quando maldizemos ou caçoamos de nossos queridos.